quinta-feira, 26 de abril de 2018

Pagliacci: Documentário que fala sobre os 20 anos do La Mínima, grupo a que pertenceu o ator Domingos Montagner




“O espetáculo não para, tem sequência”. Vestindo essa camisa, o ator e palhaço Fernando Sampaio aparece em uma das cenas de “Pagliacci”, documentário que estreia hoje no Rio e São Paulo. A frase era de seu parceiro, sócio e amigo Domingos Montagner, igualmente ator e palhaço, que morreu ano passado afogado no Rio São Francisco, durante uma folga nas gravações da novela “Velho Chico”.

Fernando e Domingos (ou Duma, como era chamado pelos amigos) fundaram o grupo La Mínima em 1997 com o espetáculo “La Mínima Cia de Ballet” e trabalharam juntos nesses 20 anos. A ideia do documentário surgiu em 2016, para comemorar as duas décadas da companhia, a montagem do espetáculo “Pagliacci” - versão teatróloga e circense da ópera homônima - e também como uma reflexão do que é ser palhaço. “Em agosto, o Duma me perguntou o que eu achava de fazer um documentário.

No mesmo dia, jantamos com nosso grupo e todos adoraram a ideia”, conta Fernando. Só que Domingos morreu um mês depois e, mesmo consternados com a fatalidade, houve um acordo no grupo para levar o projeto adiante.

Roger Avanzi, o Picolino, fala de quando dava aulas para Fernando Sampaio e Domingos Montagner

“Domingos tinha pedido uma ajuda na produção da peça. Acabei dirigindo também o documentário, ao lado de Chico Gomes, Julio Hey, Luiza Villaça e Pedro Moscalcofi”, conta Luiz Villaça. Ele diz que a proposta do filme foi mantida e que não foi transformada numa homenagem a Domingos: “Tudo é tratado com muita delicadeza. Para mim, é o documentário do amor”. Em nenhum momento, fala-se claramente sobre a morte do ator, que aparece em inúmeras cenas de arquivo, ao lado de Fernando,e falando um belo texto ao final que revela o amor que tinha pela arte que abraçou: “Minha vida só não é maior que meu circo”. “Ele era muito ativo, produtivo e mesmo insaciável quando se tratava de trabalho”, confirma Fernando.

“O making of do espetáculo, que mistura ficção e realidade, foi muito prazeroso e a história do ‘La Mínima ‘foi tranquilo contar”, diz Luiz. O documentário narra a construção do espetáculo desde os primeiros ensaios até uma montagem já estruturada, duas semanas após a estreia em maio de 2017. “A busca foi mesmo pela questão da figura do palhaço. Me coloquei como um aprendiz e, como a proposta não era a de uma narrativa jornalística, nós filmávamos naturalmente, sentindo o que faltava para completar aquela busca pela definição da arte de ser palhaço”, conta Villaça, que diz que as filmagens encerraram em novembro de 2017. “Não ter vergonha do ridículo”, “provocar coisas”, “profissão do amor e da generosidade” são algumas das definições encontradas nessa busca de definir o que é ser palhaço.

Uma das figuras importantes no documentário é Roger Avanzi, o palhaço Picolino. “Eu e Duma nos conhecemos no Circo Escola Picadeiro em 1987, onde tivemos aulas com o Roger. É uma grande escola e, graças a ela existem tantos grupos de circo e teatro em São Paulo. A gente sempre ficava lá depois das aulas, até bem tarde. Dali, começamos a ir para as praças e parques presentar os números da nossa dupla”, lembra Fernando, que no filme faz uma visita emocionado à casa do velho mestre, atualmente com 95 anos. “A primeira vez que vi o Picolino, que fazia dupla com o Pinguim, eu decidi que era aquele ofício que eu queria seguir”, conta o palhaço.

Fonte: Jornal do Brasil

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